• 5. A estrutura do roteiro

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    Chegamos no ponto onde vamos colocar em prática, finalmente, a escrita do roteiro. E que fique registrado: é tudo processual. Vamos construindo nossa história aos poucos e nosso trabalho sempre é feito em partes. Precisamos de tempo para pesquisa, para germinação de ideias e para elaboração da escrita dos conjuntos da obra fílmica.


    Primeiro temos de verificar que estamos trabalhando com a estrutura narrativa clássica e dessa forma, é preciso delimitar bem como serão os atos da história, ou seja, quais serão os pontos-chave de tensão dramática que vão formar a estrutura geral de nosso roteiro. É aqui que vamos dividir os acontecimentos da história em começo, meio e fim e pensar na integração desses atos a partir de cenas e sequências.


    A determinação dos atos vai nos auxiliar nas escolhas narrativas, estéticas e técnicas do processo de criação do roteiro. Cada autor tem sua forma de trabalho e o importante é manter as ideias concisas e organizadas. Uma dica é fazer uma lista descrevendo as ações ou os momentos importantes para a narrativa como se fossem os resumos das cenas. No cinema industrial trabalhamos com algo parecido com isso, leva o nome de escaleta.


    Alguns autores usam métodos mais palpáveis para a criatividade e organização, usando cartões, fichas ou papéis adesivos coloridos para fazer o planejamento da estrutura dos atos e até trabalhar brevemente quanto à descrição das cenas. É interessante esse método pois possibilita alterar e visualizar o trabalho de forma que possa alterá-lo como as ideias surgirem.


    É importante, claro, determinar os fatores que dirão que história é essa que se passa num tempo e um espaço específico onde uma personagem vive um fato determinado.


    • Espaço: Aqui tratamos da localização geográfica - mesmo que seja fictícia - da sucessão de nossos fatos da história. É onde a ação dramática vai se desenvolver presencialmente, fisicamente.


    • Tempo: Cuidamos da temporalidade nesse aspecto, quando a história vai se localizar no tempo para que ocorra o desenvolvimento da ação dramática.


    A maneira que vamos unir as peças do espaço, do tempo e das vidas que viveram as ações dramáticas é a maneira pela qual vamos chamar a atenção do público. A mudança que vai acontecer na narrativa depende exclusivamente da causalidade: toda ação tem sua reação. Uma vez que a ação dramática se define pelas vontades, decisões e mudanças da personagem, toda e qualquer reação dentro da história é o que vai compor nossa estrutura. É o que chamamos de causa e efeito e devemos nos apoiar nisso para conduzir a construção da narrativa.


    Essa ambientação vai mudar conforme o decorrer da história e o desenvolver da própria personagem. Enquanto roteiristas, vamos descrever quais são as motivações que modificam a trajetória da narrativa com a elaboração das cenas. Nelas é que vamos construir os cenários, os diálogos, os propósitos das personagens e as provocações do conflito para logo assim partir para um impacto do espectador com a história com a construção e a ligação desses elementos: ou seja, é nas cenas que vamos desenvolver o suspense e a emoção capazes de prender a atenção deles.


    Escrita do roteiro 

    Com a narrativa bem definida, as personagens desenhadas e o conflito bem como sua resolução bem delimitada, podemos começar a juntar todas as peças e escrever o roteiro na sua própria formatação - que ajudará na hora da gravação, nos ensaios com os atores e nas análises técnicas da produção.

    • Identificação da cena: no lado esquerdo da página encontramos um número seguidos de uma descrição que ajudará na captação dos materiais. Essa é a identificação da cena e aparece toda vez que temos uma nova. A numeração das cenas é sequencial e não se repete. A descrição é digitada em letras maiúsculas e descreve onde e quando a cena acontece- se é em um ambiente interno usamos INT. e se é em um ambiente externo, usamos EXT. ; registramos o tempo com DIA ou NOITE ; definimos o local da cena.


    • Descrição de ação: é o que acontece na cena, escrito sempre no tempo presente. É registrado aqui os detalhes do que veremos e ouvimos no produto final bem como são descritas as emoções, os gestos e as subjetividades que darão sentido a narrativa. Também são descritas as aparições das personagens e das locações que geralmente, na primeira vez, são seguidas por uma breve descrição de sua aparência. É importante que sejam descritas as ações completas e sejam bem objetivas as descrições para que quem esteja lendo, capte o que há na cabeça do roteirista. Afinal, a interpretação pode sugerir diversas coisas e quanto mais objetivo, melhor.


    • Diálogo: aparece logo depois da ação e começa com o nome do personagem que o faz, centralizado acima da linha de descrição da fala. Se for o caso da voz da personagem estar vindo de uma fonte fora da tela, usamos identificações com parêntesis logo após o nome dela. 




    As cenas vão se formando aos poucos e com a ajuda de tudo que construímos até agora, o roteiro vai tomando forma. O argumento vai nos ajudar a elaborar as conexões dos atos, o desenho dos atos vão nos ajudar a elaborar as conexões das cenas e a própria construção das cenas vai nos guiar para seu detalhamento. 


    Sempre devemos nos lembrar de manter em pé o conflito matriz e trazer as mudanças para a narrativa. Devemos colocar nas ações e reações das personagens as suas motivações e devemos colocar propósito em nossas escolhas estéticas. Tudo que escrevemos deve ter uma razão por trás que monta sentido para a narrativa. O nosso verdadeiro trabalho é armar a construção do interesse do espectador na história que temos a contar. E o segredo do nosso trabalho é emocionar e transmitir essa história da maneira mais interessante que acharmos. 




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