• 1. As artes visuais e as nossas sensações

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    Uma dica valiosa para se trabalhar com direção de arte é exercitar nossa sensibilidade diante do visual. Afinal, uma vez que temos esse domínio, podemos nos comunicar de forma mais afinada e, assim, passar as mensagens e sensações que desejamos. Acumular referências sempre é um ótimo caminho. Passar a interpretar melhor as sensações causadas pelas artes visuais (sejam elas vindas do audiovisual, das pinturas, das fotografias, das ilustrações) é uma boa ideia. Além disso, começar a observar melhor os espaços que frequentamos, os objetos que manuseamos, a forma como as pessoas que conhecemos se vestem; é um ótimo exercício para nossa bagagem.

                                                      

    A Grande Onda de Kanagawa. Katsushika Hokusai. Entre 1830 - 1833. Gravura, 25 x 37 cm.

    O que você sente ao observar esta gravura? Quais sensações você experimenta ao observar as linhas sinuosas que formam as ondas? E a espuma? O que a escolha desses tons de cores lhe transmite? Você sente paz ao imaginar o movimento  desse mar? Ou seria pânico – ao se transportar para as pessoas nos barcos?



                                                                            

    Estudo após Retrato de Velázquez do Papa Inocêncio X. Francis Bacon. 1953. Óleo sobre tela. 153 x 118 cm. Des Moines Art Center, Des Moines, Iowa

    E essa pintura? O que esse fundo escuro nos evoca? E o roxo, o amarelo e o branco? E essas linhas retas, cortantes, que parecem apunhalar a personagem? É angustiante. É quase possível ouvir o grito do papa.



                          

    Nighthawks. Edward Hopper. 1942. Óleo sobre tela. 84.1  × 152.4 cm. Art Institute of Chicago, Chicago (Illinois).

    A solidão e a melancolia são quase palpáveis nessa obra de Edward Hopper. Seria papel das cores utilizadas? São sombrias, pesadas -  até mesmo o vermelho, tem aspecto de sangue seco. O amarelo da luz parece ser o único refúgio. A rua vazia, a linguagem corporal dos habitantes dessa pintura. O modo como se vestem, quase como animais noturnos. As pinturas de Hopper são tão potentes em nos fazer sentir que já foram replicadas muitas vezes no cinema.



                                          

    Telefone Lagosta. Salvador Dalí. 1936. Telefone comum e lagosta em gesso. 15 × 30 × 17 cm.

    E esse objeto surrealista de Salvador Dalí? Qual seria a relação entre um telefone e uma lagosta? Na obra, o artista explora a relação entre o desejo sexual e o desejo de comer e beber. Afinal, a lagosta é considerada um alimento afrodisíaco e, além de tudo, sua parte sexual está fixada na parte do telefone que a pessoa usaria para falar. Estamos tratando de um objeto de arte, sim, mas a direção de arte deve se aproveitar dos simbolismos dos objetos, assim como (re)criar esses significados.



                                                      

    Happy Holiday. Agnes Martin. 1999. Tinta acrílica e grafite sobre tela. 1525 × 1525 × 40 mm. ARTIST ROOMS Tate and National Galleries of Scotland.

    Agnes Martin pintou alguns quadros com cores tão suaves que a sensação imediata é de leveza. Olhar para essas obras pode, ainda, nos inundar de um silêncio misterioso. Como seria utilizar uma pintura parecida no cenário de algum filme? Será que aplicar cores nesse estilo no figurino de alguma personagem não lhe passaria uma personalidade tranquila, harmoniosa?


    Mise-en-scène

    O termo “mise-en-scène” é uma herança da direção teatral. Em francês, originalmente, significa “pôr em cena”. Na prática cinematográfica “mise-en-scène” refere-se ao “controle do diretor sobre o que aparece no quadro fílmico” (BORDWELL, 2013). Embora o conceito de “mise-en-scène” extrapole a direção de arte (pois também engloba questões como a iluminação e a encenação), está profundamente ligado com a área – afinal, também fazem parte da “mise-en-scène” o cenário, o figurino e a maquiagem.



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