Análise de diferentes cenas de “Romeu e Julieta”

A direção de arte ajuda a construir o universo, a atmosfera e o tom do filme. Uma mesma narrativa, com diferentes propostas de direção de arte, se transforma. “Romeu e Julieta” já teve diversas adaptações para o audiovisual, cada uma com sua essência. Abaixo separamos quatro cenas de diferentes adaptações do clássico de Shakespeare. Assista as cenas e preste atenção à direção de arte – os cenários, os figurinos, as maquiagens, os objetos, as cores, as texturas. 

Feito isso, compare as cenas. 

  • Quais as principais diferenças na direção de arte? 
  • E semelhanças? 
  • O que os diferentes conceitos visuais nos transmitem? 
  • Mesmo sendo cenas de diferentes adaptações conseguimos identificar com clareza que todas tratam de “Romeu e Julieta”? 
  • Por quê? 
  • Quais elementos da direção de arte ajudam a criar o tom de cada cena?

cena 01 / “Romeu & Julieta” (Franco Zeffirelli, 1968) (

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cena 02 / “Carnaval no Fogo” (Watson Macedo, 1949) (

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cena 03 / “Amor, Sublime Amor” (Robert Wise / Jerome Robbins, 1961) (

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cena 04 / “Romeu + Julieta” (Baz Luhrmann, 1996) (

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Cada uma das versões apresentadas tem uma atmosfera e um tom diferentes. A versão de Zeffirelli de 1968 é clássica, realista, sóbria. Enquanto isso, “Carnaval no Fogo” é o completo oposto - uma chanchada. O trecho de “Romeu e Julieta” encenado é uma caricatura. “Amor, Sublime Amor” e “Romeu + Julieta” recriam a obra de Shakespeare e procuram ser adaptações mais livres. Em todas as quatro versões, a direção de arte é peça fundamental na construção desses diferentes universos.

Na cena de Zeffirelli, por exemplo, temos uma construção visual que procura ser mais próxima ao material original. O cenário e as caracterizações das personagens são realistas. Há texturas – a aspereza da pedra, o brilho selvagem das folhas. As cores são mais sóbrias. O espaço parece dividido entre a arquitetura habitada por Julieta e o bosque onde Romeu se esconde – afinal, essas personagens pertencem a mundos opostos.

Já em “Carnaval no Fogo” temos uma caricatura. A direção de arte abraça esse universo e ajuda a criar humor através do cenário, das caracterizações e dos objetos. Tudo é tosco de maneira proposital. O cenário é claramente pintado e construído para o teatro. Os figurinos são mais próximos de fantasias. Oscarito usa a peruca e o punhal para fazer graça. Grande Otelo encarna Julieta.

“Amor, Sublime Amor” se inspira em “Romeu e Julieta” para narrar um romance que se passa em Nova York na década de 50. Tony e María são de gangues rivais e protagonizam, assim como os enamorados de Shakespeare, um romance proibido. Aqui, temos uma adaptação mais livre. O espaço apresentado pela cena é propositalmente pensado para nos levar até a cena do balcão de “Romeu e Julieta”. Entretanto, a caracterização do ambiente é totalmente diferente – é a Nova York dos anos 50, com seus tijolinhos e escadas de incêndio.

“Romeu + Julieta” segue essa direção da adaptação mais livre. Em tempos modernos, Romeu e Julieta mais uma vez são de gangues rivais. Entretanto, as referências ao clássico estão presentes a todo momento, gerando uma harmonia estranha, quase como uma distorção do tempo. Romeu e Julieta se conheceram num baile à fantasia. Aqui, os figurinos se aproveitam do contexto para um jogo: vestem Julieta como um anjo e Romeu como um cavaleiro. Assim, as personagens ganham passe livre para usarem trajes de época numa situação atual. A cena do balcão acrescenta uma passagem numa piscina, caracterizando o amor dos dois como algo fluido, leve e etéreo. O cenário é realista e traz elementos (como as estátuas e a concha de madrepérola na piscina) que dialogam com o Renascimento.

Perceba que alguns aspectos permanecem nas diferentes versões. Romeu sempre é retratado como um desbravador, disposto a quebrar as regras para concretizar seu amor. Na versão de Zeffirelli ele usa roupas azuis, um símbolo da nobreza. Em “Romeu + Julieta” ele literalmente usa uma armadura. Julieta sempre é retratada como um ser celestial. Em “Amor, Sublime Amor” ela usa roupas de um tom frágil de roxo, quase como uma presença etérea. Mesmo em “Carnaval no Fogo” a personagem usa branco, como um ícone de pureza. E, em “Romeu + Julieta”, ela se fantasia de anjo.