• 2. A Narrativa Clássica

    0%


    Eisenstein é um dos primeiros teóricos do cinema e a consolidação da narrativa clássica passa também por seus esforços. Ele organiza os tipos de montagem em cinco categorias: montagem métrica, rítmica, tonal, atonal e intelectual.


    • Montagem Métrica: seria a forma mais elementar de montagem, obedecendo às motivações da métrica musical para duração do plano. Exatamente como o ritmo da música (2/2, 2/4, 4/4, 4/8, 3/8, 6/8),  o ritmo da montagem posiciona os cortes como são dispostas as notas em um compasso. Fica bem fácil compreender esse conceito quando assistimos clipes musicais onde os cortes “casam” com a batida da música.


    • Montagem Rítmica: é o passo seguinte da montagem métrica. Passa a considerar a duração do plano através da percepção do espectador. Um plano com muitas informações precisa de mais tempo para ser compreendido. Já um plano de algum detalhe ou informação específica se torna cansativo se mantido por tempo maior que o suficiente para compreender do que se trata. Não se refere apenas ao ritmo musical, mas ao da compreensão de quem assiste também.


    • Montagem Tonal: da forma como a montagem rítmica se relaciona com a compreensão do contexto, a montagem tonal se relaciona com as emoções que cada plano pode causar. Os planos consecutivos desenvolvem uma mesma tonalidade emocional entre si. Planos de uma perseguição tendem a ser mais frenéticos por, juntos, causarem certa euforia, que seria quebrada se entre estes planos, houvesse um com duração excessivamente longa. Já quando uma personagem está triste, os planos tendem a durar mais, como forma do espectador interagir com esse sentimento, gerando empatia com a personagem.


    • Montagem Atonal: seria um desenvolvimento da  montagem tonal que consideraria também, tonalidades (ou emoções) mais sutis, não tão evidentes como uma perseguição causaria. Eisenstein compara com os tons harmônicos da música (por isso é também conhecida como montagem harmônica), que estão associados à nota principal, mas só são experimentados quando a música realmente toca. 


    • Montagem Intelectual: essas classificações se comportam como uma evolução do processo da montagem. Aqui a montagem intelectual seria o amadurecimento da montagem para conceitos que vão além do campo apenas emocional ou apenas métrico. Tom, tempo, espaço e harmonia compõem uma montagem mais complexa que entende que o filme é dinâmico e oscila seu andamento para que a experiência do espectador seja a mais completa possível. 

    Um conceito de Dziga Vertov colabora para a montagem intelectual e para o conceito de descontinuidade citado no início do capítulo. O “intervalo” seria a distância entre dois planos que constrói significado. Para exemplificar, temos o efeito Kuleshov. É um experimento realizado por Lev Kuleshov,  que consistiu na justaposição de um  fotograma com o rosto de um ator, a três diferentes situações: uma garota num caixão, um prato de  sopa e uma mulher em um divã. Mesmo sendo o mesmo ator, com exatamente a mesma feição, a cada situação diferente, nossa interpretação nos leva a entender que o ator esteja triste, com fome e atraído (respectivamente). Ou seja, o significado para cada sequência, não estaria nem na atuação do ator e nem indicados no plano seguinte. Estaria no intervalo dos planos entre o ator e cada situação, onde criamos uma relação entre eles que nos pareça plausível.



  • O que é montagem?

  • A construção da montagem

  • Os cuidados da montagem