A maquiagem está ligada com o figurino - precisa ser descrita, inclusive, na bíblia de figurino - e auxilia a compor a estética visual das personagens. Originalmente, era necessária porque os rostos dos atores e das atrizes não ficavam bem registrados nas películas cinematográficas antigas. Ainda hoje é comum se utilizar dos recursos de maquiagem para “melhorar” ou “manipular” a aparência das personagens. 

Há diversas possibilidades na maquiagem cinematográfica: desde a pouca (ou nenhuma) aplicação para conseguir um aspecto mais natural e que capte os mínimos detalhes do rosto até próteses e tantas outras artimanhas para simular ferimentos ou criar o visual de criaturas fantásticas.

Em “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014) temos uma trama de Ensino Médio. A maquiagem é natural, tenta passar despercebida e não é nada carregada. Sua função está mais ligada com o disfarçar de traços indesejados nos rostos dos atores e atrizes. Quando lidamos com filmes onde o elenco é adolescente também temos a opção de criar espinhas nas personagens, construindo uma caracterização. Mas um detalhe importante: mesmo sendo um filme adolescente, nunca será uma boa ideia “aproveitar” espinhas reais dos atores e atrizes! Essas sempre precisarão serem corrigidas pela maquiagem, pois podem interferir na continuidade - você já percebeu como uma espinha troca drasticamente de aspecto em pouco tempo? Pois é, seria complicado a personagem aparecer com uma espinha indecisa (que troca de cor e textura o tempo todo) ao longo do seu filme.

Além de esconder, a maquiagem também pode fazer o contrário, ressaltar. É possível chamar a atenção de nossos olhares para traços que a equipe de maquiagem gostaria de destacar nas personagens. Através do uso de blush e sombra podemos esculpir um rosto, tornando-o mais estreito ou mais largo. As sobrancelhas podem ser moldadas para criar uma leva de sensações: ao serem alongadas, esticam a face; ao serem encurtadas, a diminuem; quando levemente inclinadas para cima, temos um rosto alegre; para baixo, triste; quando espessas e retas, cria-se um ar de seriedade. E temos os olhos. Os atores de cinema se valem muito do poder do olhar e a maquiagem pode auxiliar esse efeito de modo positivo - o rímel e o delineador podem ser usados para chamar a atenção para os olhos e enfatizar a direção do olhar. Nessa cena da minissérie “Capitu” (2008), a maquiagem cumpre sua função ao retratar a essência da personagem, cujos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” ficam mais do que evidentes.

Como todos os aspectos da direção de arte, a maquiagem também pode ter função narrativa. Em “Los Silencios” (2018) acompanhamos a história de uma mãe e seus casal de filhos fugindo do conflito armado colombiano. Em sua jornada, as personagens se deparam com elementos sobrenaturais. A maquiagem artística neon foi uma ótima linguagem para pensar esse limiar entre o mundo dos vivos e dos mortos. Para além disso, existe todo um referencial: em rituais de ayahuasca os participantes dizem ver o mundo espiritual através de cores neon, como as empregadas no filme.

Em filmes de ficção científica e/ou horror a maquiagem é vital para a consolidação do design de criaturas. Através de próteses e enxertos de borracha ou plasticina é possível criar toda uma gama de aberrações: órgãos e membros extras, protuberâncias, camadas de pele, etc. Além disso, ferimentos e injúrias podem ser criados através de truques de maquiagem - desde cortes e hematomas até fraturas expostas. Embora possa parecer coisa de grandes produções, esse tipo de maquiagem pode ser facilmente desenvolvida com materiais acessíveis do dia-a-dia (sangue falso pode ser feito com corante e xarope de milho; massinha para criar pele, ossos ou protuberâncias pode ser feita tendo amido como base). 

A grande prova são os filmes trash. No Brasil, o cineasta Rodrigo Aragão é um dos representantes atuais. Nascido no Espírito Santo, Rodrigo Aragão trabalha com cinema de horror. Em seu cinema, explora o folclore brasileiro e já nos apresentou uma leva de criaturas fantásticas e medonhas, todas criadas a partir da maquiagem. No filme “Mar Negro” (2013), o cineasta utilizou 1500 litros de sangue falso!