Som
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A gente já sabe que cinema é uma arte feita em conjunto por várias pessoas, certo? Então é de se imaginar que cada área tenha relações com outras áreas, ou seja elas conversam entre si para que tudo fique em harmonia. O som sendo uma ferramenta técnica e criativa consegue se comunicar com todas as demais áreas, vejamos:
Som e Roteiro: pensar o som do filme desde o roteiro é algo super importante, esse processo geralmente ocorre através de indicações que o roteirista faz no próprio roteiro. Muito da escrita do roteiro se dá pela imaginação visual do roteirista, ou seja, ele escreve a história visualizando aquilo na sua cabeça, agora além de visualizar ele também pode escutar e rechear o roteiro, por exemplo, o personagem está em um parque e nesse parque há uma fonte que jorra água, também há crianças que correm com um cachorro etc, esses são exemplos de indicações que podem estar presentes no roteiro. Esse processo pode (e deve) ser feito em conjunto do diretor de som que dá idéias e contribui sonoramente com o roteiro, além dessa paisagem sonora que pode aparecer no roteiro, outra idéia é a de pensar no som dos personagens, se ele é bagunçado, caminha fazendo barulho, fala alto, esbarra nas coisas, ou se ele é tímido e silencioso, fala baixo e quase não se escuta seus passos, ou talvez ele é poderoso e quando chega em algum lugar as pessoas fazem silêncio e ouvimos o eco dos seus passos, enfim são inúmeras as possibilidades que podem contribuir com o roteiro, além é claro dos diálogos que são primordialmente a maior parte sonora do roteiro.
Som e Direção: a conversa entre essas duas áreas deve acontecer desde cedo pois o som precisa entender qual a proposta estética da direção e assim se adaptar e também contribuir com ela pois o estilo de direção vai guiar o caminho a qual o som deve seguir a partir de suas ações durante as filmagens (enquadramentos, movimentos de câmera, mise-en-scène, estilo de atuação, entre outras). Uma ideia legal é pensar lá no início se o filme terá trilha musical e qual será essa trilha pois com esse conhecimento a equipe toda pode ser “sintonizada” no mesmo canal e desenvolver uma harmonia através da música.
Som e Direção de Arte: dentro do set de filmagem som e arte são áreas bastante próximas graças a ajuda que a direção de arte pode oferecer ao som direto. Às vezes a locação possui uma acústica ruim e o som reverbera (quando o som “bate” nas paredes ou objetos e volta criando uma sensação de dobro, similar ao eco só que mais rápido) no local e não existe outra possibilidade de locação, a arte pode ajudar colocando um objeto ou vários dentro do set que ajudem a diminuir esse problema como tapetes, móveis de espuma, cortinas grossas, etc. A gravação de diálogos também pode contar com a ajuda da arte quando por exemplo será necessária a utilização de microfones lapela sem fio (aquele que é colocado no corpo do ator), e então a arte pode escolher roupas mais macias e silenciosas que não vão interferir na captação do som, e até mesmo a inserção de objetos cenográficos que podem esconder um microfone que foi colocado estrategicamente dentro da cena.
Som e Produção: é importante ressaltar que a gravação do som direto é uma parte de extrema importância para o som de um filme visto que muito do que for gravado na hora será usado na parte de edição do filme, então é necessário ter a clareza de que o som vai precisar de um tempo a mais para realizar seu trabalho, e é aqui que entra a amizade som x produção. É necessário pensar que existem várias possibilidades de conflitos envolvendo o som durante as filmagens, então conhecer esses possíveis conflitos e já ter em mãos as soluções é crucial, e é através da conversa com a produção que a equipe de som apresenta o problema e já a solução, por exemplo, é interessante que haja um acordo com a produção para que se consiga um tempo em meio ao set onde o som fique sozinho na locação para gravar ambiente/paisagem sonora e alguns efeitos específicos caso necessário, e é claro isso demanda recursos financeiros para uma diária a mais na locação, ou talvez um carro que leve a equipe de som antes do resto da equipe. Às vezes pode acontecer de durante as gravações algum som apareça fora do set e que atrapalhe a gravação do som direto e então a produção precisa interferir e identificar o lugar e o motivo daquele som e resolver o problema, além do que a demanda de equipamentos que o som irá usar nas filmagens e o agendamento nas salas de edição também será feita através da produção.
Som e Fotografia: essas duas áreas são as que mais trabalham em conjunto já que ambas estão gravando a cena simultaneamente em tempo real, uma a imagem e outra o áudio. Assim como o som, a fotografia também é importante pois é o que será visto na tela, e é necessário um grande plano de ensaios por trás das filmagens com o posicionamento de equipamentos de câmera, iluminação e som. Esse plano ocorre primeiro no papel, uma espécie de planta da arquitetura da locação onde fotografia e som vão discutir qual será a posição de seus equipamentos, o que geralmente ocorre é uma adaptação da equipe de som de acordo com as necessidades da equipe de fotografia, e como nossa área é eficiente e maleável o resultado é ótimo, porém trabalhoso.
Som e Montagem: A montagem é o primeiro lugar onde o som vai parar após as gravações, aqui o montador ou montadora vai fazer a sincronização do som e imagem que foram gravados simultaneamente, e é claro fazer o seu próprio trabalho de montar as cenas, e dependendo da afinidade que essa pessoa tenha com o som a montagem pode tomar rumos bem distintos, a utilização de cenas que se complementam sonoramente por exemplo podem deixar a montagem com fluidez, saber quais músicas serão inseridas no filme a fim de criar transições sonoras também é interessante. Além disso a montagem pode ajudar a resolver problemas sonoros, se há por exemplo uma cena onde a qualidade do som direto foi comprometida por algum motivo exterior e o diálogo precisa ser dublado a montagem pode escolher um plano onde a boca do ator não esteja em evidência e não vemos a sincronia da fala diretamente.