• A fotografia, como seu nome já indica, é a grafia/escrita da luz, assim quando pensamos em fotografia, automaticamente estamos em diálogo com a luz e como ela incide e se expressa sobre o circunda o espaço. Dessa forma, passamos a perceber, manipular, controlar e forjar as consequências da incidência da luz:  sombras, texturas, formas, volumes, silhuetas. A fotografia é o resultado da incidência da luz em um aparato, ou seja, só há fotografia quando há luz. 

    Os elementos relacionados à luz e sombra sugerem muitos aspectos da narrativa. Os elementos e as sensações dramáticas que um áudio-visual nos transmite estão muito relacionados com a forma como a luz é composta. (COUTINHO, 2013, p. 70).

    No cinema, a luz e suas fontes podem ser classificadas por diferentes aspectos: Sua direção (direta/indireta), qualidade (dura/difusa-suave), cor/temperatura (fria/quente), intensidade (forte/fraca) e posição (lateral/frontal/zenital/etc). 

     Para além de nos possibilitar ferramentas para observação da luz e suas incidências, essas classificações nos possibilitam pensar, controlar e planejar previamente a luz de uma cena, tanto quanto reproduzi-la posteriormente. 

    → posição (lateral/frontal/zenital/contra-luz,etc): 

    No dia a dia estamos habituados às luzes zenitais, que vem do teto, acima de nossas cabeças, ou a luz direta e natural do sol. No cinema é diferente, as luzes costumam ser posicionadas de forma frontal, lateral e traseira - quando não usamos somente a luz natural-, cada uma dando diferentes aspectos para o que está sendo iluminado e podem ser utilizadas em conjunto. Esta forma de iluminação foi adotada com o intuito de resultar sombras mais suaves nos rostos dos atores e das atrizes em cena. 

    Há algumas formas de iluminar mais predominantes, o que não significa serem obrigatórias e/ou serem limitantes da criatividade. São várias as fontes de luz que podem ser utilizadas para iluminar uma cena cinematográfica.Uma das formas mais utilizadas de posicionar as fontes de luz é chamada de "luz de 3 pontos". A luz de 3 pontos se baseia em utilizar conjuntamente 3 fontes de luz, a LUZ PRINCIPAL que será mais forte para iluminar a cena, a LUZ DE COMPENSAÇÃO que irá suavizar as sombras produzidas pela luz principal e a LUZ DE CONTRA, que serve para separar o objeto do fundo e acrescentar contraste. 

    Nesta imagem podemos perceber as posições da luz e os diferentes aspectos que esta produz no que será filmado.  



    → intensidade (forte/fraca): 

    Podemos pensar a intensidade, basicamente como a diferenciação de luzes mais fortes, para luzes mais fracas e seus efeitos. Podemos trabalhar com a intensidade conforme a ênfase que queremos para um objeto em cena, para a noção de profundidade (mais escuro - mais longe) entre outros. 

    → cor/temperatura (fria/quente): 

    A temperatura de cor é uma propriedade a qual se refere a cor que uma luz terá dependendo da sua temperatura, em uma escala. Essa propriedade varia conforme a natureza da luz, ou seja, se essa luz provém de uma fonte que produz luz amarela, como as luzes de velas, ou mais azul, como o céu em uma dia nublado.

    Na linguagem convencionada essa temperatura de cor da luz é medida pela unidade Kelvins (K) e quanto maior a temperatura mais azul e quanto mais baixa a temperatura, mais amarela. Essa percepção das temperaturas foi concebida através de experimentos os quais mediram as diferentes temperaturas que uma chama tem ao longo dos seus tons (azul-amarelo).

    É realmente estranho, em um primeiro momento, nos depararmos com esta imagem pois a escala física da temperatura de cor é diferente da escala cognitiva visual - o que chamamos de "TONS" na imagem acima. Por exemplo, ao ver a chama de um fogão a tendência é pensarmos que a amarela é a mais quente, quando, na verdade, é a chama azul.(FONSECA,2016).

    É importante saber dessa inversão nos termos quando abordamos este tópico, pois as câmeras e aparelhos eletrônicos irão medir a temperatura nesta escala. 

    A temperatura de cor é uma característica de grande poder de construção de significado. Por exemplo, uma lâmpada incandescente, mais amarelada, nos remetendo a ambientes calorosos e com atmosfera mais positiva; um momento de felicidade, de criatividade ou de euforia. Já a luz fria pode nos remeter a momentos de tristeza, solidão, angústia; Essa é proveniente de fontes mais azuis, como as de um dia nublado ou lâmpadas fluorescentes.

    → qualidade (dura/difusa - suave): 

    A luz dura é aquela que projeta uma sombra forte e delineada. Pode nos servir tanto para iluminar um rosto em um momento de suspense quanto para construir silhuetas e formas projetadas. A Luz difusa, pelo contrário, projeta sombras suaves e iluminam com mais delicadeza o objetivo. Esta tende a ser mais fraca pois é obtida pela dispersão da luz, e consequente diminuição de intensidade desta. 

    → direção (direta/indireta):

     A luz direta é aquela que incide da fonte diretamente no objeto, como a iluminação de uma lanterna ou até mesmo a luz do sol. A luz direta tende a produzir uma luz dura, contrária à luz indireta que sempre ocasionará uma luz suave/difusa. A luz indireta é aquela que antes de atingir o objeto é refletida ou rebatida em algo, por exemplo, quando usamos rebatedores específicos do cinema, ou até mesmo, uma folha de isopor (comumente usada no cinema independente e de baixo custo).  


    As luzes difusas são muito utilizadas no cinema, pois iluminam com suavidade, sem deixar as sombras escuras demais ou os brilhos claros demais. Por outro lado, há filmes que exploram a luz mais dura, como a luz do sol. No filme Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963), a luz é de alto-contraste, o que é claro é muito claro, o que é escuro é muito escuro. Na história que esse filme conta, a opressão vem do sol e da claridade ofuscante que transforma a vida do sertanejo nordestino num verdadeiro inferno. (COUTINHO, 2013, p.71). Ou seja, é  o papel da luz, neste caso da direção de fotografia, que determina a dramaticidade da história.  No cinema de sombras, ou para projetar sombras, a luz dura é sempre empregada.



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